sexta-feira, 13 de março de 2015

Continue A Nadar

Sou dessas que querem dar lição de moral em alguém que reclama da vida, quando alguém reclama do que tem e reclama do que não tem. Reclama de não conseguir e reclama da dificuldade de se manter naquilo que conseguiu. Mantendo o hábito, vim aqui hoje dar lição de moral em alguém que reclamou bastante de tudo isso ultimamente: eu. Passei o ano passado todo torcendo pra conseguir uma vaga no curso de Libras numa Federal, e aqui estou eu, a quase uma semana, vivendo meu sonho a mais de 200Km de casa. As aulas? Maravilhosas, tudo o que eu queria. As pessoas? Está valendo muito a pena conhecer todas elas. A experiência? Um crescimento considerável, sem dúvida. Algum motivo pra reclamar? Nenhum. Apenas motivos pra comemorar. Mas tenho sido ingrata com Aquele que ouviu minhas orações por meses e me presenteou com o que eu tanto pedi. Estou aqui, e este texto é a abolição das minhas reclamações pequenas, acaba hoje minha mania de voltar correndo pra casa porque o mundo lá fora está me assustando.
Meus pais disseram que não seria fácil, mas insisti, e eles se despediram de mim dizendo que esperavam me ver sair daqui formada, e é isso que eu vim fazer, vim estudar, aprender Libras e aprender a viver melhor e com mais independência, aprender a ser profissional na área que eu amo. Vim pra conhecer uma amiga de poucos dias e um coração maior que o meu de pelúcia que deixo em cima do travesseiro, vim pra quebrar estereótipos, vim pra aprender a economizar dinheiro, e a estudar em todas (TODAS) as horas vagas, vim pra receber uma mensagem preocupada do meu irmão ausente que me fez ganhar o dia, vim pra pensar no futuro e não na noite de hoje, vim pra honrar os que acreditam em mim e pra que eu mesma acredite mais. Não vim pra reclamar, pra ficar triste. A saudade faz parte, não quero deixar de senti-la, vim pra isso também, pra voltar pra casa e gostar cada vez mais dela e das pessoas que deixei lá.
Me recuso a fazer parte do fluxo de pessoas que querem crescer quando são crianças, e que querem voltar a infância quando já cresceram. Hoje eu quero ser só eu mesma, com meus 22 anos, com todas as responsabilidades que eu tenho, com a rotina corrida distante das pessoas que mais gosto, com um cronograma pela primeira vez na vida, sem tempo pra mexer nos joguinhos bobos que eu baixei no meu celular, com internet ruim que faz as chamadas do Skype caírem o tempo todo. Hoje a maior dificuldade é a mente forte, que nem sempre é fácil ter, mas nessa trajetória é o que eu preciso, cabeça forte, coração firme, atenção focada, e muita fé, que foi citada por último, mas vem por primeiro e mantém todo o resto em pé.
Vou ficar, mas só por um tempo, o tempo que me propus a ficar, e não vou reclamar, vou ficar bem (viu, mãe). Vou ficar com Deus, com meus sonhos, meus novos colegas, com minha saudade no peito, minhas olheiras e meu coração de pelúcia em cima do travesseiro. Vou ficar com quem eu amo na cabeça e com meu cachorro na ponta da língua sempre que a conversa for boa. Vou ficar por mim, vou ficar por vocês, e vou ficar por Deus, que acreditou tanto em mim que me deu tudo isso mesmo sabendo que sou ingrata e reclamaria.

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