terça-feira, 31 de março de 2015

Mãe, Tô Sem Wi-Fi


Fiquei uns 100Km a mais, longe de casa esses dias. O Wi-Fi não está funcionando, e o 3G do meu celular esgotou depois de tê-lo usado por trinta minutos pra conversar no Whatsapp. Não vi meus pais e o Marley pelo Skype ontem, não sei quantas notificações tem meu Facebook, e nem quantos novos acessos tem o Blog. Alguém, por favor, pode me dizer o que eu posso fazer com esse computador ligado na minha frente sem acesso a nada? Talvez eu devesse estudar mais, ou apenas ouvir de novo o CD da Taylor Swift, mas acho que off-line não tem graça. E estudar sem ser interrompida pelos sons das redes sociais, é quase nada inspirador. Não consegui enviar a foto do lanche que eu fiz, e nem opinar sobre o seriado novo que meu amigo está assistindo. Não posso ver a previsão do tempo pra saber se na quinta vai chover na hora que eu for viajar, e se fará sol no sábado. Nem este texto posso postar. É mãe, as coisas não estão fáceis nessas horas arrastadas, estava empolgada pra aula de hoje cedo, mas o professor a cancelou. Estou sem sono, dormi bem ontem, sem ficar com o celular na mão mandando as últimas mensagens do dia e sem clicar em links com títulos que me interessam. Estou sem fome, acabei de comer, e novamente não pude tirar foto pra te mandar e ver você dizendo que já está quase na hora do almoço, que estou errada em comer tanta bobagem. Calma mãe, antes de me ligar perguntando o que está acontecendo, queria te contar uma coisa: fiquei entediada aqui dentro e decidi ficar lá fora um pouco, você acredita que tem um monte de passarinhos que ficam bem na entrada do prédio e eu nem imaginava, de certo que chegaram hoje porque senão eu teria notado eles antes, com certeza. E reparei que aqui se parece muito com o lugar que nós morávamos até meus 16 anos, a quantidade de árvores é a mesma, e o ar gelado também, e ainda estamos em março, não era pra estar frio assim. Meu Deus! Estamos em março, mãe! Por que você não me avisou?! Era pra eu já ter terminado de fazer um milhão de coisas que planejei encerrar em fevereiro. Estou mesmo perdendo a noção do tempo, deve ser por isso que quando perguntam minha idade, minha boca se ajeita pra responder “20”, quando na verdade tenho “22”. E agora, como é que volta? Será que o Google tem resposta pra isso? Ah, esqueci que também não tenho como acessar o Google. Bom, vou esperar até que a internet volte pra eu poder te perguntar isso, mãe. Aproveito e te conto como essa semana está passando devagar.

terça-feira, 24 de março de 2015

Sem Se Esconder Do Sol

Bom, até onde sabemos os elevadores existem e são utilizados para levarem pessoas de um andar até outro do prédio, até aí tudo certo. Em alguns casos, como o daqui da Universidade, esses mesmos elevadores são usados somente por pessoas que precisam, como eu. Mas e quando o elevador não funciona e sua aula é no 1º andar? Aí alguém te carrega ué! Certo? Errado. Acho interessante esclarecer que eu não ando, mas as rodas da minha cadeira giram, elas foram criadas pra isso, e caso você que teve essa ideia brilhante não tenha observado, eu não sou algo pra ser carregada escada acima. Me recusei hoje, e me recusarei amanhã caso o problema se repita.
Mas aí em meio a este transtorno que tinha tudo pra frustrar minha fé no próximo, me surgem aqueles loucos (lindos) da minha sala, que sentados no chão perto da escada simplesmente dizem “se a Flávia não subir, a gente não sobe”. E adivinhem... Ninguém subiu. Não pensem que estou incentivando uma rebelião rs, mas tirei uma lição de tudo isso. Abri meus olhos pra uma questão que sempre me recusei a levar a sério: nessa sociedade os obstáculos não são retirados, os responsáveis apenas encontram uma forma de contorná-los pra poeira baixar, dão um jeito de carregar a minoria no colo pra não incomodar, e não retirar os demais de suas confortáveis cadeiras do “to nem aí porque não é comigo”. Bom, mas é comigo. Comigo e com vários outros, continuamos sendo a minoria, mas estamos cada vez mais apoiados pelas leis, já que a consciência de vocês não é o suficiente.
E me alegro muito mesmo em dizer, que hoje, a lei não foi a única que me apoiou, fui apoiada por outras pessoas que simplesmente se importaram, e acredito que não doeu nelas essa atitude. Pelo contrário, elas se sentiram bem, fazendo o que era certo, não ficando a favor da peneira que tampa o sol que desagrada os que não precisam se queimar. Quero agradecer a todos os futuros tradutores/intérpretes de Libras que ficaram literalmente do meu lado nesta tarde, tenho um encontro marcado com vocês amanhã na escada, ao lado do elevador. E dessa vez sou eu que digo “estou nessa porque vocês estão”.

quarta-feira, 18 de março de 2015

A Arte De Conviver Com Uma Pessoa Sem Luz

Aprendi na escola que o título deve ser escrito por último, depois do texto finalizado, e acredita que segui essa regra sempre? Sempre até hoje, porque hoje o título voou pro teclado. Pessoa sem luz. Não, eu não acredito que seja melhor do que alguém pra vir até aqui declarar esse adjetivo triste sobre um ser que deveria ser pensante, mas convivo com uma pessoa que pensa isso, que pensa que tem a melhor opinião, que comanda tudo a sua volta, que não precisa de permissão pra se intrometer na vida alheia, e quando eu digo intrometer, não falo de fofoca não, falo de literalmente invadir a vida de outra pessoa e tomar uma atitude que só cabia a ela.
Repito o que já escrevi numa outra publicação: meus pais disseram que não seria fácil. E não tem sido mesmo, mas estou ansiosa pra encontrar com eles e dizer que eles estavam certos, mas que eles se esqueceram de dizer que eu conheceria pelo caminho pessoas incríveis que fariam tudo valer à pena, amizades de duas semanas e uma vida toda compartilhada em conversas antes de dormir, que eu iria me divertir com situações que normalmente não teriam graça, esqueceram de me lembrar que existiria alguém que tentaria baixamente atrapalhar minha caminhada, mas que existiriam muitas outras que me apoiariam e andariam lado a lado comigo, pessoas que brilham tanto, que fazem a sombra escura que me persegue sumir. Já ficou alguma vez no centro de muitas luzes, a sombra some, não é mesmo? Pois é. Lamento a você, pessoa sem luz, que tenta trazer escuridão pra minha vida, você não atinge nada aqui, pelo menos não enquanto tantas luzes me cercarem.
Eu entendo que na sua realidade perturbadamente particular você esteja sempre com a razão, mas isso é porque você sempre está só, impossibilitando você de comparar sua opinião com outras opiniões. E entendo sua solidão, entendo que isso te faz ser assim, ou talvez você seja só, justamente por ser assim. Resolva isso, você pode até ser feliz um dia, quem sabe!
Quanto a mim, eu desistiria se fosse você, e procuraria urgentemente um espelho pra enxergar nele o que há de tão errado com você, uma vez que ouvir risadas felizes te incomoda tanto. E desejo que você se encontre, mas não sou hipócrita em dizer que pode contar comigo pra isso, você não pode, não quero te manter perto, prefiro que você siga pra um rumo oposto do meu. Mas enquanto você ainda estiver por perto, guarde sua escuridão, seus resmungos e seus bilhetes pra você. Também não fale mais em meu nome, você não me representa, sei que você não acha isso, mas tenho voz própria. Obrigada pela compreensão, este é meu bilhete pra você (:

sexta-feira, 13 de março de 2015

Continue A Nadar

Sou dessas que querem dar lição de moral em alguém que reclama da vida, quando alguém reclama do que tem e reclama do que não tem. Reclama de não conseguir e reclama da dificuldade de se manter naquilo que conseguiu. Mantendo o hábito, vim aqui hoje dar lição de moral em alguém que reclamou bastante de tudo isso ultimamente: eu. Passei o ano passado todo torcendo pra conseguir uma vaga no curso de Libras numa Federal, e aqui estou eu, a quase uma semana, vivendo meu sonho a mais de 200Km de casa. As aulas? Maravilhosas, tudo o que eu queria. As pessoas? Está valendo muito a pena conhecer todas elas. A experiência? Um crescimento considerável, sem dúvida. Algum motivo pra reclamar? Nenhum. Apenas motivos pra comemorar. Mas tenho sido ingrata com Aquele que ouviu minhas orações por meses e me presenteou com o que eu tanto pedi. Estou aqui, e este texto é a abolição das minhas reclamações pequenas, acaba hoje minha mania de voltar correndo pra casa porque o mundo lá fora está me assustando.
Meus pais disseram que não seria fácil, mas insisti, e eles se despediram de mim dizendo que esperavam me ver sair daqui formada, e é isso que eu vim fazer, vim estudar, aprender Libras e aprender a viver melhor e com mais independência, aprender a ser profissional na área que eu amo. Vim pra conhecer uma amiga de poucos dias e um coração maior que o meu de pelúcia que deixo em cima do travesseiro, vim pra quebrar estereótipos, vim pra aprender a economizar dinheiro, e a estudar em todas (TODAS) as horas vagas, vim pra receber uma mensagem preocupada do meu irmão ausente que me fez ganhar o dia, vim pra pensar no futuro e não na noite de hoje, vim pra honrar os que acreditam em mim e pra que eu mesma acredite mais. Não vim pra reclamar, pra ficar triste. A saudade faz parte, não quero deixar de senti-la, vim pra isso também, pra voltar pra casa e gostar cada vez mais dela e das pessoas que deixei lá.
Me recuso a fazer parte do fluxo de pessoas que querem crescer quando são crianças, e que querem voltar a infância quando já cresceram. Hoje eu quero ser só eu mesma, com meus 22 anos, com todas as responsabilidades que eu tenho, com a rotina corrida distante das pessoas que mais gosto, com um cronograma pela primeira vez na vida, sem tempo pra mexer nos joguinhos bobos que eu baixei no meu celular, com internet ruim que faz as chamadas do Skype caírem o tempo todo. Hoje a maior dificuldade é a mente forte, que nem sempre é fácil ter, mas nessa trajetória é o que eu preciso, cabeça forte, coração firme, atenção focada, e muita fé, que foi citada por último, mas vem por primeiro e mantém todo o resto em pé.
Vou ficar, mas só por um tempo, o tempo que me propus a ficar, e não vou reclamar, vou ficar bem (viu, mãe). Vou ficar com Deus, com meus sonhos, meus novos colegas, com minha saudade no peito, minhas olheiras e meu coração de pelúcia em cima do travesseiro. Vou ficar com quem eu amo na cabeça e com meu cachorro na ponta da língua sempre que a conversa for boa. Vou ficar por mim, vou ficar por vocês, e vou ficar por Deus, que acreditou tanto em mim que me deu tudo isso mesmo sabendo que sou ingrata e reclamaria.

quarta-feira, 4 de março de 2015

Indo Com Medo Mesmo

Ontem recebi uma mensagem de uma mulher que eu não conheço, ela sem ao menos dizer o habitual “oi tudo bem?” foi direto me perguntando: o que aconteceu pra você ficar tetra plégica? Oie, não sou tetraplégica, tenho movimentos nos braços e pernas, eles apenas são fracos por causa de uma doença genética (: “Nossa. Caramba” me respondeu a mulher. E pelo que eu conheço das reações sobre este assunto, ela deve ter pensado o quanto isso é horrível pra mim. Lembrei então, o quanto me afetava quando encontrava pessoas como ela, e lembro de tentar provar que não era horrível não. Lembro de sentir raiva da falta de noção que muita gente tem. Pelo menos no meu ponto de vista ainda não é aceitável sair parando as pessoas pelas ruas e perguntando porque elas não andam, por que elas preferem pessoas do mesmo sexo, por que não emagrecem já que tem um rosto tão bonito, por que não procuram um tratamento pra calvície, por que usam roupas pretas e cruz no pescoço, por que elas não são “normais”... Aí lembrei do que meu pai diz pra mim desde sempre, que as pessoas nunca vão pensar e ter a mesma noção porque ninguém é igual.
Eu passei a maior parte da minha vida sendo poupada, indo pra poucos lugares e sempre de carro, com gente de confiança por perto pra que pudessem cuidar de mim, e eu particularmente com uma barreira invisível enorme em volta de mim, que não só impedia as pessoas de entrarem no meu íntimo como também me impedia de sair dele. E poderia ter permanecido assim, se não fosse a minha mania de sonhar, sonhar acordada ouvindo música alta, sonhar olhando as ruas passarem rápido enquanto o carro andava, sonhar enquanto minha família toda saía pra trabalhar e eu ficava sozinha em casa. E sonhei até decidir pesquisar na internet quais eram os meios possíveis pra eu alcançar tudo isso. Não demorou muito pra que começassem a se realizar e aí me deparei com um desafio desconhecido até então: o mundo. Senti muito medo e uma insegurança grande, bem grande, insegurança de dar minha opinião, de andar na frente das pessoas, insegurança de sentar e de levantar, insegurança de mim, insegurança de ser, e principalmente medo de ser abordada por alguém como a mulher de ontem.
Dessa vez eu não tinha do meu lado ninguém de confiança pra cuidar de mim, eu tinha um monte de desconhecidos, e tinha insegurança também de conhecê-los. Eu tinha toda essa insegurança, mas tinha fé também, e acreditem, ela fez toda a diferença, os frutos da fé foram novas pessoas em quem eu podia confiar, mas não pra cuidar de mim e sim pra andar lado a lado, a fé também me moldou pra que eu mesma pudesse me cuidar, me firmar, pra que eu pudesse ser, pra que eu tivesse pouco tempo pra sonhar e mais tempo pra realizar, e pudesse desenvolver minha confiança e não me importar com as perguntas que não diziam “oi tudo bem?”, porque elas sempre existiriam, delas eu não poderia me livrar porque elas estavam espalhadas pelo mundo, onde meus sonhos também estavam e eu iria até eles, de qualquer jeito, e continuo indo, de carro ainda, mas agora também de ônibus, pelas ruas sendo empurrada na cadeira pelo meu namorado, só não fui de avião ainda, Londres que me aguarde.
E sobre a mulher de ontem, me afetou? Negativamente não mais, mas não escondo que ela ganhou alguns instantes dos meus pensamentos, ganhou até este texto, ganhou minha superação ao ler a mensagem dela e não sentir nada de ruim, apenas compreensão de que a ignorância de informações é algo real, mas a ignorância ao responder não faz mais parte de mim. Eu aceito responder as perguntas, aceito retribuir os olhares curiosos com um sorriso (às vezes), aceito tentar entrar na faculdade de LIBRAS que usa 100% a força dos braços mesmo eu não tendo ela toda, aceito andar de ônibus e subir de elevador, mesmo ele apitando e fazendo questão de anunciar que eu estou subindo, aceito não ter mais muro invisível, e aceito não me livrar de tudo isso pra voltar a ser poupada.
Pessoal, podem perguntar, a cada pergunta menos um desinformado no mundo, não é mesmo. Mas só peço com carinho, ao menos me cumprimentem antes (: