Fiquei
uns 100Km a mais, longe de casa esses dias. O Wi-Fi não está funcionando, e o
3G do meu celular esgotou depois de tê-lo usado por trinta minutos pra
conversar no Whatsapp. Não vi meus pais e o Marley pelo Skype ontem, não sei quantas
notificações tem meu Facebook, e nem quantos novos acessos tem o Blog. Alguém,
por favor, pode me dizer o que eu posso fazer com esse computador ligado na
minha frente sem acesso a nada? Talvez eu devesse estudar mais, ou apenas ouvir
de novo o CD da Taylor Swift, mas acho que off-line não tem graça. E estudar
sem ser interrompida pelos sons das redes sociais, é quase nada inspirador. Não
consegui enviar a foto do lanche que eu fiz, e nem opinar sobre o seriado novo
que meu amigo está assistindo. Não posso ver a previsão do tempo pra saber se
na quinta vai chover na hora que eu for viajar, e se fará sol no sábado. Nem este
texto posso postar. É
mãe, as coisas não estão fáceis nessas horas arrastadas, estava empolgada pra
aula de hoje cedo, mas o professor a cancelou. Estou sem sono, dormi bem ontem,
sem ficar com o celular na mão mandando as últimas mensagens do dia e sem
clicar em links com títulos que me interessam. Estou sem fome, acabei de comer,
e novamente não pude tirar foto pra te mandar e ver você dizendo que já está
quase na hora do almoço, que estou errada em comer tanta bobagem. Calma mãe, antes de me ligar perguntando o que está acontecendo,
queria te contar uma coisa: fiquei entediada aqui dentro e decidi ficar lá fora
um pouco, você acredita que tem um monte de passarinhos que ficam bem na
entrada do prédio e eu nem imaginava, de certo que chegaram hoje porque senão
eu teria notado eles antes, com certeza. E reparei que aqui se parece muito com
o lugar que nós morávamos até meus 16 anos, a quantidade de árvores é a mesma,
e o ar gelado também, e ainda estamos em março, não era pra estar frio assim.
Meu Deus! Estamos em março, mãe! Por que você não me avisou?! Era pra eu já ter
terminado de fazer um milhão de coisas que planejei encerrar em fevereiro.
Estou mesmo perdendo a noção do tempo, deve ser por isso que quando perguntam minha
idade, minha boca se ajeita pra responder “20”, quando na verdade tenho “22”. E
agora, como é que volta? Será que o Google tem resposta pra isso? Ah, esqueci
que também não tenho como acessar o Google. Bom, vou esperar até que a internet
volte pra eu poder te perguntar isso, mãe. Aproveito e te conto como essa
semana está passando devagar.
terça-feira, 31 de março de 2015
terça-feira, 24 de março de 2015
Sem Se Esconder Do Sol
Bom, até onde sabemos os
elevadores existem e são utilizados para levarem pessoas de um andar até outro
do prédio, até aí tudo certo. Em alguns casos, como o daqui da Universidade,
esses mesmos elevadores são usados somente por pessoas que precisam, como eu.
Mas e quando o elevador não funciona e sua aula é no 1º andar? Aí alguém te
carrega ué! Certo? Errado. Acho interessante esclarecer que eu não ando, mas as
rodas da minha cadeira giram, elas foram criadas pra isso, e caso você que teve
essa ideia brilhante não tenha observado, eu não sou algo pra ser carregada
escada acima. Me recusei hoje, e me recusarei amanhã caso o problema se repita.
Mas aí em meio a este transtorno que
tinha tudo pra frustrar minha fé no próximo, me surgem aqueles loucos (lindos)
da minha sala, que sentados no chão perto da escada simplesmente dizem “se a
Flávia não subir, a gente não sobe”. E adivinhem... Ninguém subiu. Não pensem
que estou incentivando uma rebelião rs, mas tirei uma lição de tudo isso. Abri
meus olhos pra uma questão que sempre me recusei a levar a sério: nessa
sociedade os obstáculos não são retirados, os responsáveis apenas encontram uma
forma de contorná-los pra poeira baixar, dão um jeito de carregar a minoria no
colo pra não incomodar, e não retirar os demais de suas confortáveis cadeiras do
“to nem aí porque não é comigo”. Bom, mas é comigo. Comigo e com vários outros,
continuamos sendo a minoria, mas estamos cada vez mais apoiados pelas leis, já
que a consciência de vocês não é o suficiente.
E me alegro muito mesmo em dizer, que
hoje, a lei não foi a única que me apoiou, fui apoiada por outras pessoas que simplesmente se importaram, e acredito que não doeu nelas essa
atitude. Pelo contrário, elas se sentiram bem, fazendo o que era certo, não ficando a favor da peneira que tampa o sol que desagrada os que não precisam se
queimar. Quero agradecer a todos os futuros tradutores/intérpretes de Libras
que ficaram literalmente do meu lado nesta tarde, tenho um encontro marcado com
vocês amanhã na escada, ao lado do elevador. E dessa vez sou eu que digo “estou
nessa porque vocês estão”.
quarta-feira, 18 de março de 2015
A Arte De Conviver Com Uma Pessoa Sem Luz
Aprendi
na escola que o título deve ser escrito por último, depois do texto finalizado,
e acredita que segui essa regra sempre? Sempre até hoje, porque hoje o título
voou pro teclado. Pessoa sem luz. Não, eu não acredito que seja melhor do que
alguém pra vir até aqui declarar esse adjetivo triste sobre um ser que
deveria ser pensante, mas convivo com uma pessoa que pensa isso, que pensa que
tem a melhor opinião, que comanda tudo a sua volta, que não precisa de
permissão pra se intrometer na vida alheia, e quando eu digo intrometer, não
falo de fofoca não, falo de literalmente invadir a vida de outra pessoa e tomar
uma atitude que só cabia a ela.
Repito
o que já escrevi numa outra publicação: meus pais disseram que não seria fácil.
E não tem sido mesmo, mas estou ansiosa pra encontrar com eles e dizer que eles
estavam certos, mas que eles se esqueceram de dizer que eu conheceria pelo
caminho pessoas incríveis que fariam tudo valer à pena, amizades de duas
semanas e uma vida toda compartilhada em conversas antes de dormir, que eu iria
me divertir com situações que normalmente não teriam graça, esqueceram de me
lembrar que existiria alguém que tentaria baixamente atrapalhar minha
caminhada, mas que existiriam muitas outras que me apoiariam e andariam lado a
lado comigo, pessoas que brilham tanto, que fazem a sombra escura que me
persegue sumir. Já ficou alguma vez no centro de muitas luzes, a sombra some,
não é mesmo? Pois é. Lamento a você, pessoa sem luz, que tenta trazer escuridão
pra minha vida, você não atinge nada aqui, pelo menos não enquanto tantas luzes
me cercarem.
Eu
entendo que na sua realidade perturbadamente particular você esteja sempre com
a razão, mas isso é porque você sempre está só, impossibilitando você de
comparar sua opinião com outras opiniões. E entendo sua solidão, entendo que
isso te faz ser assim, ou talvez você seja só, justamente por ser assim.
Resolva isso, você pode até ser feliz um dia, quem sabe!
Quanto
a mim, eu desistiria se fosse você, e procuraria urgentemente um espelho pra
enxergar nele o que há de tão errado com você, uma vez que ouvir risadas
felizes te incomoda tanto. E desejo que você se encontre, mas não sou hipócrita
em dizer que pode contar comigo pra isso, você não pode, não quero te manter
perto, prefiro que você siga pra um rumo oposto do meu. Mas enquanto você ainda
estiver por perto, guarde sua escuridão, seus resmungos e seus bilhetes pra
você. Também não fale mais em meu nome, você não me representa, sei que você
não acha isso, mas tenho voz própria. Obrigada pela compreensão, este é meu
bilhete pra você (:
sexta-feira, 13 de março de 2015
Continue A Nadar
Sou dessas que
querem dar lição de moral em alguém que reclama da vida, quando alguém reclama
do que tem e reclama do que não tem. Reclama de não conseguir e reclama da dificuldade de se manter naquilo que conseguiu. Mantendo o hábito, vim aqui
hoje dar lição de moral em alguém que reclamou bastante de tudo isso ultimamente:
eu. Passei o ano passado todo torcendo pra conseguir uma vaga no curso de
Libras numa Federal, e aqui estou eu, a quase uma semana, vivendo meu sonho a
mais de 200Km de casa. As aulas? Maravilhosas, tudo o que eu queria. As
pessoas? Está valendo muito a pena conhecer todas elas. A experiência? Um
crescimento considerável, sem dúvida. Algum motivo pra reclamar? Nenhum. Apenas
motivos pra comemorar. Mas tenho sido ingrata com Aquele que ouviu minhas
orações por meses e me presenteou com o que eu tanto pedi. Estou aqui, e este
texto é a abolição das minhas reclamações pequenas, acaba hoje minha mania de
voltar correndo pra casa porque o mundo lá fora está me assustando.
Meus pais
disseram que não seria fácil, mas insisti, e eles se despediram de mim dizendo
que esperavam me ver sair daqui formada, e é isso que eu vim fazer, vim
estudar, aprender Libras e aprender a viver melhor e com mais independência,
aprender a ser profissional na área que eu amo. Vim pra conhecer uma amiga de
poucos dias e um coração maior que o meu de pelúcia que deixo em cima do
travesseiro, vim pra quebrar estereótipos, vim pra aprender a economizar
dinheiro, e a estudar em todas (TODAS) as horas vagas, vim pra receber uma
mensagem preocupada do meu irmão ausente que me fez ganhar o dia, vim pra
pensar no futuro e não na noite de hoje, vim pra honrar os que acreditam em mim
e pra que eu mesma acredite mais. Não vim pra reclamar, pra ficar triste. A
saudade faz parte, não quero deixar de senti-la, vim pra isso também, pra
voltar pra casa e gostar cada vez mais dela e das pessoas que deixei lá.
Me recuso a fazer
parte do fluxo de pessoas que querem crescer quando são crianças, e que querem
voltar a infância quando já cresceram. Hoje eu quero ser só eu mesma, com meus
22 anos, com todas as responsabilidades que eu tenho, com a rotina corrida
distante das pessoas que mais gosto, com um cronograma pela primeira vez na
vida, sem tempo pra mexer nos joguinhos bobos que eu baixei no meu celular, com
internet ruim que faz as chamadas do Skype caírem o tempo todo. Hoje a maior
dificuldade é a mente forte, que nem sempre é fácil ter, mas nessa trajetória é
o que eu preciso, cabeça forte, coração firme, atenção focada, e muita fé, que
foi citada por último, mas vem por primeiro e mantém todo o resto em pé.
Vou ficar, mas só por um tempo, o tempo que me propus a ficar, e não vou reclamar, vou ficar bem (viu, mãe). Vou ficar com Deus, com meus sonhos, meus novos colegas, com minha saudade no peito, minhas olheiras e meu coração de pelúcia em cima do travesseiro. Vou ficar com quem eu amo na cabeça e com meu cachorro na ponta da língua sempre que a conversa for boa. Vou ficar por mim, vou ficar por vocês, e vou ficar por Deus, que acreditou tanto em mim que me deu tudo isso mesmo sabendo que sou ingrata e reclamaria.
Vou ficar, mas só por um tempo, o tempo que me propus a ficar, e não vou reclamar, vou ficar bem (viu, mãe). Vou ficar com Deus, com meus sonhos, meus novos colegas, com minha saudade no peito, minhas olheiras e meu coração de pelúcia em cima do travesseiro. Vou ficar com quem eu amo na cabeça e com meu cachorro na ponta da língua sempre que a conversa for boa. Vou ficar por mim, vou ficar por vocês, e vou ficar por Deus, que acreditou tanto em mim que me deu tudo isso mesmo sabendo que sou ingrata e reclamaria.
quarta-feira, 4 de março de 2015
Indo Com Medo Mesmo
Ontem recebi uma mensagem de
uma mulher que eu não conheço, ela sem ao menos dizer o habitual “oi tudo bem?”
foi direto me perguntando: o que aconteceu pra você ficar tetra plégica? Oie, não sou tetraplégica, tenho movimentos nos
braços e pernas, eles apenas são fracos por causa de uma doença genética (: “Nossa.
Caramba” me respondeu a mulher. E pelo que eu conheço das reações sobre este
assunto, ela deve ter pensado o quanto isso é horrível pra mim. Lembrei então,
o quanto me afetava quando encontrava pessoas como ela, e lembro de tentar
provar que não era horrível não. Lembro de sentir raiva da falta de noção que
muita gente tem. Pelo menos no meu ponto de vista ainda não é aceitável sair
parando as pessoas pelas ruas e perguntando porque elas não andam, por que elas
preferem pessoas do mesmo sexo, por que não emagrecem já que tem um rosto tão
bonito, por que não procuram um tratamento pra calvície, por que usam roupas
pretas e cruz no pescoço, por que elas não são “normais”... Aí lembrei do que
meu pai diz pra mim desde sempre, que as pessoas nunca vão pensar e ter a mesma
noção porque ninguém é igual.
Eu passei a maior parte da
minha vida sendo poupada, indo pra poucos lugares e sempre de carro, com gente
de confiança por perto pra que pudessem cuidar de mim, e eu particularmente com
uma barreira invisível enorme em volta de mim, que não só impedia as pessoas de
entrarem no meu íntimo como também me impedia de sair dele. E poderia ter
permanecido assim, se não fosse a minha mania de sonhar, sonhar acordada
ouvindo música alta, sonhar olhando as ruas passarem rápido enquanto o carro andava,
sonhar enquanto minha família toda saía pra trabalhar e eu ficava sozinha em
casa. E sonhei até decidir pesquisar na internet quais eram os meios possíveis
pra eu alcançar tudo isso. Não demorou muito pra que começassem a se realizar e
aí me deparei com um desafio desconhecido até então: o mundo. Senti muito medo
e uma insegurança grande, bem grande, insegurança de dar minha opinião, de
andar na frente das pessoas, insegurança de sentar e de levantar, insegurança
de mim, insegurança de ser, e principalmente medo de ser abordada por alguém
como a mulher de ontem.
Dessa vez eu não tinha do
meu lado ninguém de confiança pra cuidar de mim, eu tinha um monte de
desconhecidos, e tinha insegurança também de conhecê-los. Eu tinha toda essa
insegurança, mas tinha fé também, e acreditem, ela fez toda a diferença, os
frutos da fé foram novas pessoas em quem eu podia confiar, mas não pra cuidar
de mim e sim pra andar lado a lado, a fé também me moldou pra que eu mesma
pudesse me cuidar, me firmar, pra que eu pudesse ser, pra que eu tivesse pouco
tempo pra sonhar e mais tempo pra realizar, e pudesse desenvolver minha
confiança e não me importar com as perguntas que não diziam “oi tudo bem?”,
porque elas sempre existiriam, delas eu não poderia me livrar porque elas
estavam espalhadas pelo mundo, onde meus sonhos também estavam e eu iria até
eles, de qualquer jeito, e continuo indo, de carro ainda, mas agora também de
ônibus, pelas ruas sendo empurrada na cadeira pelo meu namorado, só não fui de
avião ainda, Londres que me aguarde.
E sobre a mulher de ontem,
me afetou? Negativamente não mais, mas não escondo que ela ganhou alguns
instantes dos meus pensamentos, ganhou até este texto, ganhou minha superação
ao ler a mensagem dela e não sentir nada de ruim, apenas compreensão de que a
ignorância de informações é algo real, mas a ignorância ao responder não faz
mais parte de mim. Eu aceito responder as perguntas, aceito retribuir os
olhares curiosos com um sorriso (às vezes), aceito tentar entrar na faculdade
de LIBRAS que usa 100% a força dos braços mesmo eu não tendo ela toda, aceito
andar de ônibus e subir de elevador, mesmo ele apitando e fazendo questão de
anunciar que eu estou subindo, aceito não ter mais muro invisível, e aceito não
me livrar de tudo isso pra voltar a ser poupada.
Pessoal, podem perguntar, a
cada pergunta menos um desinformado no mundo, não é mesmo. Mas só peço com
carinho, ao menos me cumprimentem antes (:
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